quarta-feira, abril 20, 2011

As mortes das minhas ex


Não há no vocabulário dos sonhos a palavra “impossibilidade”. É isso mesmo, meus amigos! Os nossos desejos mais insanos podem se concretizar nos sonhos. Tudo é uma questão de querer e se concentrar. Eu, tão bem-sucedido no profissional e tão mal-sucedido no pessoal, encontrei uma maneira de não sofrer mais - quando ELAS me rejeitam - através dos meus sonhos.
Me lembro bem da primeira vez que consegui essa proeza. Eu estava namorando a Gracinha. Já tínhamos dois meses e três dias de namoro. Ela fazia jus ao nome: era uma gracinha! E como ficava mais bonita ainda com vergonha: vermelhinha! Mas sem recaídas, meus amigos! Imagine que - friamente - Gracinha terminou comigo. Dizia ela que já não gostava de mim. Sofri por dias e noites. E como sofri! Foi quando em um desses dias de lamúrias, eu sonhei com ela. Sonhei que discutíamos e eu a matei. Simples assim! Bati sem querer a sua cabeça contra a parede e a matei. No outro dia acordei muito bem. Coloquei "Bethoven the nine symphones" e percebi que já não sentia mais nada. Já não sofria.
Depois foi a vez da Cidinha. Ela não havia terminado oficialmente comigo, mas não foi preciso. Bastou ela beijar outro na minha frente. Até hoje não consegui entender tamanha crueldade. Quando chegava do trabalho, o mesmo ritual de sofrimento. Colocava Black de Pearl Jam, tomava o meu whisky e fumava milhares de cigarros - também black - sentado no meu divã. Ficava relembrando aquela nossa viagem a Veneza. Como foi boa aquela viagem! Sofria e sofria e sofria... Já sofria por uma semana quando me lembrei da morte da Gracinha. Era só fazer o mesmo. Simples assim! Era só matar Cidinha também. Bastava isso e o meu sofrimento acabaria. Naquela noite, me concentrei e sonhei com Cidinha. Não é que até no meu sonho, a Cidinha me traiu? Ela estava com Antônio, nosso vizinho, na minha cama! Vejam só que audácia! Matei os dois. Bastou uma facada sem querer em cada um e num instantinho eles passaram pro andar de cima. No outro dia acordei tão bem quanto da primeira vez em que matei. Coloquei "Bethoven the nine symphones", tomei banho, coloquei a minha melhor roupa e fui dar uma volta.
Depois disso, matei muitas outras ex. Teve a Joana, Carmelita e Amélia. Matei todas! Teve a Maristela também. Imagine que esta última imitou a Cidinha. Me traiu também. Mas não foi com um homem. Foi com uma mulher. Uma mulher! Ah, mas por esta não sofri um dia. Tratei logo de me concentrar e sonhar com ela. Fui atrás dela. E quando estava chegando em sua casa, eis que surge uma mulher. Ela vinha em minha direção. Que Mulher! Era ruiva, estatura mediana e tinha um corpo que até as mulheres - incluindo Maristela - desejariam. Fiquei paralisado e esperei que ela se aproximasse de mim. Nos entreolhamos muito. Foi quando uma catástrofe sucedeu. Eu... eu... eu... acordei. Droga! Eu acordei, meus amigos! Assustado e maravilhado com a formosura daquela mulher eu a-cor-DEI. Quem é aquela Mulher? Quem é? Eu nunca a vi. Estou apaixonado por ela e nunca a vi. Como pode, meus amigos! Não sei quem é ela, mas preciso encontrá-la. Preciso vê-la! Preciso beijá-la! Preciso penetrá-la! Preciso! Preciso, preciso, preciso!
Agora, todas as noites eu me concentro e sonho com ela. Até a vejo. Mas... ela não quer me dizer o seu nome e nem onde encontrá-la... Sorte da Maristela que se safou!

(Ana Casanova)

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