Dentro desse corpo
Dentro
Corpo
Dentro desse corpo existe veneno
Dentro desse corpo existe dor
Dentro desse corpo sentimentos
Quais?
Verdadeiros.
Ventre, mulher, homem... tudo é negro
Saia de dentro de mim peste negra, dor, maldição e pecado.
É merda, o que tenho dentro de mim não é vida, é merda.
É preto, é podre, é esperma, é óvulo, é fecundação.
Dois, homem e mulher, um, novo ser.
É preto, é podre, é só mais um no mundo.
Saia de dentro de mim merda.
Tudo é merda, eu sou merda, você é merda.
Não, eu não carregarei pesos.
Não, eu não carregarei isso, assim dentro.
Saia de mim, não estou pronto pra carregar pesos.
Um corpo frágil, menina, menino sei lá. Frágil.
Frágil sou eu sem ombro, sem colo, só dor.
Veja, aqui dentro, é dor.
E você o que faz?
Me bate, me chama de vagabunda
Me renega, comenta e desdenha.
Sou filha da fome, sou filha da morte
Sou filha da merda, sou filha da vida, sou filha da puta
Sou filha, assim como você.
Me renega? Fácil, você não está com uma coisa preta dentro de você.
Me cuspa? Fácil, você não está com uma coisa preta dentro de você.
Eu me rasgo, eu me corto, eu me mato se for preciso,
Tudo para aliviar essa dor de ter uma coisa preta dentro de mim.
Me rasgue, me corte, me mate será mais fácil olhar um corpo morto a um morto vivo.
Que vida, que filha, que merda.
Merda é o que carrego dentro de mim.
Nem sei mais o que sou, o inferno, o céu, o purgatório.
É inferno, dentro é inferno.
Por fora seria céu, seria vida, seria a minha vida.
E depois? Depois de tudo acabar? O purgatório?
Não sei, não sei... Pare de falar, eu não sei.
Merda, o que você é, é merda! Você é merda, não eu.
Afaste de mim essa tortura de viver, é mais fácil olhar um morto a um morto vivo.
Não, viva, não, viva. Viva, viva essa tortura que se chama de merda
Merda é vida. Vida. O que carrego dentro de mim é vida.
É menino, é menina, o que carrego dentro de mim é vida, e vai ser tão merda quanto você.
Claro, olha o que temos aqui.
Temos fome, temos medo e temos merda.
Mata, temos o negro como prato do dia.
Mata, temos dor como o prato do dia.
Mata, temos dedos apontados na cara como o prato do dia.
Não quero por no mundo mais merda.
Não, a merda são eles, não o que tenho dentro de mim.
Inocência... a merda são eles, não o que tenho dentro de mim.
Gabriel Miranda
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