Categoria: Teatro de Rua.
Dia: 05.11.2011
Personagem tradicional das Folias de Reis, Mateus é, sem dúvida, o mais tamado e popular dentre todos. Alma e graça do Reisado, ele é, juntamente com sua noiva Catirina, responsável por alguns dos momentos mais cômicos dessa manifestação cultural. Caracterizado, em geral, pela cara pintada de preto, pelo chapéu grande e pelos óculos escuros, ele é conhecido por sua esperteza e por sua capacidade de improviso, recheada de chistes e de um humor licencioso.
E é justamente na exploração teatral desse personagem tradicional que o espetáculo Pratativando, homenagem ao grande poeta popular Patativa do Assaré, tem seu maior mérito. Interpretado pelo ator-palhaço Cláudio Ivo, que também assina a dramaturgia e direção do espetáculo, Mateus nos conduz a momentos deliciosos nessa espécie de espetáculo-show, no qual se conjugam, ainda, outros elementos da linguagem popular, como o coco, a embolada e a literatura de cordel. São impagáveis os momentos de interação de Mateus com a platéia: no jogo de sedução das moças, na acuidade com que joga com os velhinhos que passam pela cena, na percepção fina dos acontecimentos da rua.
A intromissão de Mateus no show de um cantador que reverencia o maior poeta cearense é, também, o grande pretexto para as ações e peripécias que se desenrolarão ao longo do espetáculo, trazido à Ponta Grossa pelo grupo Mais Caras, de Fortaleza/CE. O grupo é integrado, além de Cláudio Ivo, pelo ator Edmar Cândido. Com a desculpa de procurar Zuleide – que, ao longo do espetáculo, vamos descobrir ser a “avre” de estimação de sua noiva Catirina – Mateus interrompe o show e se apresenta: canta, dança e “impertrepa”, pois é um “autista” completo. No entanto, o espetáculo tem irregularidades dramatúrgicas e de interpretação: ele peca, por exemplo, pelo excesso de didatismo, principalmente na voz do cantador, personagem que contracena com Mateus e que insiste em explicar para a platéia quem são Mateus e Patativa do Assaré, o que é coco e o que é vedete.
Além disso, o espetáculo parece não se decidir entre o desenvolvimento de uma linha de ação dramática e o simples desfile de números musicais e cômicos. Em função disso, a costura dramatúrgica soa frouxa, prendendo-se na verve de Mateus que, desgarrado de seu contexto cultural, carece de pretextos para permanecer em ação. Também em termos de atuação, há desequilíbrio: em contraponto ao palhaço, o ator Edmar Cândido se apresenta fraco e linear, não sustentando o jogo entre o enganador e o enganado. O desnível é agravado pela falta de escuta em cena: em diversos momentos, o cantador é “atropelado” pelo impaciente parceiro de palco. Apesar disso, Pratativando é um espetáculo muito saboroso e não só em função do domínio que Cláudio Ivo tem do “púbis”, da platéia: seu sabor é tributário, também, do universo popular que se nos apresenta por meio da virtuose de Mateus no sapateado e na embolada, na dança do coco, e por meio das belas canções de Patativa do Assaré que, musicadas por Luiz Gonzaga, nos fazem partícipes e coro.
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